quarta-feira, 16 de março de 2016

Uma tarde de mão cheia: quanto vale a autonomia, o sentido do que fazemos e do nosso investimento?

Hoje estou com a "alma cheia" ... a minha sala de aula, com os meus alunos, parecia uma "fábrica de cultura", um espaço de autonomia, de desenvolvimento e de criação cultural. Vou explicar.

Como a realização da prenda para o Dia do Pai estava a correr tão bem (uma das minhas prioridades por estes dias; não posso ainda mostrar as fotografias das realização das prendas, para não desvendar uma surpresa que se vai tecendo na nossa cúmplicidade comum; agora já se pode mostrar AQUI) resolvi propôr-lhe que pintassem com os dedos o papel para a embrulhar. Nestes momentos tenho sempre uma grande preocupação em que esteja tudo muito organizado, para evitar o acidentes evitáveis (mas há sempre os inevitáveis) e eles já sabem que enquanto uns fazem uma coisa, outros fazem outra - no chamado Tempo de Estudo Autónomo (T.E.A., tal como aprendi no Movimento da Escola Moderna; um tempo em que cada um pode escolher o que vai fazer, mas do qual depois tem que dar conta e mostrar o que fez) - vai chegar a vez de todos pintarem (ainda por cima com os dedos, com as mãos nas tintas...), o dito papel de embrulho.


Foi só lançar o desafio. Do lançamento do desafio à descoberta do prazer de usar e sujar as mãos nas tintas foi um pequeno grande passo. A experimentação nunca mais acabava e a certa altura ficava mesmo difícil acabar e passar o lugar a outro. Quem terminava não resistia depois a ir ver o que os outros estavam a fazer e a experimentar.






Até chegámos a falar no "efeito de contágio", de imitação, como tínhamos visto que pode acontecer na exposição "Viral", na semana que passámos na Escola da Ciência Viva.


Mas e o que iam fazendo os restantes meninos da turma?
Uns liam, no Cantinho da leitura, junto da biblioteca da turma.




A certa altura, o responsável da biblioteca da turma, nesta semana (todas as semanas mudamos de tarefas, para todos aprenderem a fazer tudo), veio pedir-me fita-cola. Disse-lhe que a podia ir buscar à minha gaveta.
Quando dei conta a biblioteca estava arrumadinha e cheia de etiquetas, com as seguintes separações (categorias): "Histórias do Mundo" (livros sobre vários países), Conhecimento (livros e enciclopédias para os mais novos), Histórias, lendas e adivinhas (a chamada literatura infantil), os astros e ciências e as "Dúvidas" (aqueles que ele não sabia bem onde colocar). Ainda conversámos um bocadinho se poderiam ser sobre os "seres vivos", se não poderiam ir para a parte do "Conhecimento", mas isso não o satisfez. Lá lhe disse que agora tinha que ir falar sobre o que tinha estado a fazer aos colegas e que esta tinha sido uma excelente ideia.


Fui sendo solicitada aqui e ali. Alguém a certa altura veio perguntar-me quantos meninos só tinham querido a fotografia do grupo, porque estavam a escrever um problema para a turma e precisavam desse dado (estamos na altura de trazerem o dinheiro para pagar as fotografias que um fotógrafo veio fazer à escola). Respondi que deveriam ser 4, mas que não tinha bem a certeza. Elas lá foram continuar o seu problema e a minha preocupação continuava centrada na rotação dos meninos que estavam a pintar o papel de embulho. Estava tudo a correr muito bem.



Outro grupo, sentadas numa outra mesa, acabava o seu projeto sobre a separação dos lixos. Tinham acabado de fazer um pequeno cartaz para pôr junto aos caixotes do lixo da sala e agora iam escrever um pequeno texto para apresentarem à turma e para depois publicarmos nosso blogue.

 

Aproveitaram os folhetos de supermercado e fizeram um cartaz com todas as indicações. Ainda não vi o que escreveram, mas estou muito curiosa.

Outro grupo acabava também um projeto sobre a poluição. Um projeto que nem sei bem como nasceu, porque hoje foi apenas a segunda vez que ouvi falar dele.




Comecei a ficar maravilhada e entusiasmada. Uma destas meninas, só este ano começou a falar e a exprimir-se perante todo o grupo turma e agora já está num grupo a fazer projetos, sem a minha ajuda e de forma tão autónoma?! ... É preciso ver para acreditar. Estou muito curiosa para ver o resultado, mas só vou interferir naquilo em que me for solicitada a ajuda.

E, quando dou por mim, já o responsável pela biblioteca tinha continuado o seu labor e estava a construir um aviso, um pequeno cartaz, para que quem fosse ler livros no cantinho da leitura, não se esquecesse de os arrumar no devido lugar.


Depois estivemos a conversar sobre como ele poderia melhorar o cartaz para que os colegas o vissem e não se esquecessem.


Foi necessário recortar o desenho para colocar numa folha maior, Realçar as letras para se ler bem. Falta agora fazer a moldura para dar um maior destaque ao cartaz e à sua mensagem. Está tudo em marcha, amanhã vai ser acabado.


E tudo isto foi feito apenas numa hora, das 16h30 às 17h30, embora já tivessemos começado antes, mas eu até consegui tirar fotografias e continuar a gerir a pintura do papel de embrulho. Chegámos ao final do dia com onze papeis pintados, mas ainda a faltarem 12, que vão ser a nossa grande prioridade para amanhã. Depois ainda falta embrulhar as prendas.


E haverá ainda alguém que me venha dizer que na última semana de aulas não se faz nada na escola?

P.S. - Devo quase tudo aos meus mestres e quando os começo a enumerar são tantos que quase me perco e me sinto uma privilegiada. Incluo nesse honroso grupo os meus alunos, em todos os locais onde fui dando aulas.

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