domingo, 6 de julho de 2014

«A Paz», por Gilberto Gil

"João Donato apareceu em casa um dia com uma fita com várias canções, todas chamadas Leila - Leila 1, 2, 3, 4 - umas quinze ou dezesseis no total. Eu disse: 'Deixa pra outro dia, hoje a gente não tem tempo...' E ele: 'Não, vá, apure aí, faça alguma coisa'. E começou a cochilar ao meu lado. A imagem dele dormindo sossegado, em plena luz do dia, me chamou a atenção para o sentido da paz. Me veio à lembrança o título do livro Guerra e Paz, de Tolstoi, e a letra foi sendo construída sobre essa contradição, reiterando minha insistência sobre o paradoxo.
" 'Uma bomba sobre o Japão fez nascer o Japão da paz', em A Paz; 'a luz nasce da escuridão', em Deixar Você; 'minha religião é a luz na escuridão', em Minha Ideologia, Minha Religião, o canto de abertura do disco Dia Dorim Noite Neon. Essa a recorrência básica no meu trabalho: yin e yang, noite e dia, sim e não, permanência e transcendência, realidade e virtualidade: a polaridade criativa (e criadora). 'Porque eu sou e Deus é, e disso é que nasce toda a criação', como diz uma outra música minha, É."

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